Eu queria muitíssimo escrever alguma coisa hoje. Mas queria fugir do tema do Dia das Mães, porque minha mãe morreu há quase cinco anos e esse fato, associado à data, é algo que me deprime.
Então, meu tema de hoje é a loucura. Na verdade, a personificação ideal dela, a personagem do vídeo abaixo:
Esse vídeo é uma adaptação, em versão concerto, de uma cena hilariante, de uma ópera igualmente hilariante chamada Platée.
Essa cena é uma das minhas favoritas na ópera inteira. Trata-se da chegada de uma personagem, a Loucura (La Folie). Na introdução, Momo (o deus da sátira) faz carinha de confuso e diz que uma nova harmonia foi anunciada por Terpsícore ou Thalia, ao que a personagem da Loucura responde que não, ele se engana.
Momo pergunta algo como "Pelos deuses, o que vejo?", e a moçoila grita, triunfante: "Sou eu, a Loucura, que acabo de roubar a Lira de Apolo".
Na seqüência, uma breve homenagem do coro à Loucura, que resolve cantar em homenagem a Platée, a personagem principal da ópera (que vai se "casar" com Júpiter). E é aí que a coisa desanda: a Loucura canta um texto tristíssimo, a história de Daphne e Apolo, com uma música estranhamente alegre e cheia de ornamentos, e em seguida um texto mais levinho e alegrinho (falando em prazeres vãos), com uma música horrorosamente triste!
Enfim, piração total.
No final da ópera, vemos a primeira cena de bullying em música. Mas isso fica para outro post!
Um comentário:
Querida Milena,
adoro essa ópera, que é um dos maiores exemplos de irrisão musical do Ocidente - Rossini parece bem comportado perto do que Rameau fez em Platée.
Nada mais justo que, nela, a Loucura deixe de ser um mero pretexto de exibicionismo vocal e se torne um personagem!
Platée, no final, reage ao bullying - ela não se comporta como vítima e tenta manter sua dignidade ridícula. Mas acho que o assunto é menos de assédio moral do que de hybris.
Abraços,
Pádua
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