domingo, maio 15, 2011

Sá e Guarabyra

Hoje eu quase enlouqueci (no bom sentido) quando encontrei, no Youtube, uma música que marcou minha infância. O nome da música é "João Sem Terra", de Sá e Guarabyra. A música fazia parte do disco "Pirão de Peixe com Pimenta" (1977), que ouvi demais quando era criança.

Quando digo "criança", falo em meus cinco a seis anos de idade. Nessa época, eu ouvia Sá e Guarabyra, Clube da Esquina, Athaualpa Yupanqui...

Essa música, "João Sem Terra", me marcou demais porque eu sempre associei a letra à história do meu pai. Imigrante da antiga Iugoslávia, ele tinha a intenção inicial de emigrar para os Estados Unidos. Porém, ele saiu de seu país na época da Guerra do Vietnã. E, ciente do fato de que muitas vezes os estrangeiros conseguiam cidadania quase instantaneamente apenas para ser mandados à guerra como "bucha de canhão", ele resolveu vir para o Brasil, onde um amigo de meu avô já vivia.

Meu pai veio para o Brasil em busca de uma vida melhor. Mas nunca esqueceu seu país de origem. Ninguém esquece, quem diz que esquece está mentindo. Sempre fica um sentimento de nostalgia.

E a letra de "João Sem Terra" fala justamente sobre isso.

A letra diz:

Desde pequeno me chamam, desde pequeno me chamam,
Desde pequeno me chamam João Sem Terra
Filho de um sol estrangeiro, que acabou me renegando
Fico onde chego primeiro, João Sem Terra

Ver o horizonte tão longe e saber que tão perto dali ficou
Tudo o que vinha crescendo de bom aqui dentro da gente
Ter que se andar para a frente, sem olhar atrás o que se deixou
Não se deseja ao pior inimigo tão sujo presente

Desde pequeno me chamam, desde pequeno me chamam,
Desde pequeno me chamam João Sem Terra
Filho de um sol estrangeiro, que acabou me renegando
Fico onde chego primeiro, João Sem Terra

Sonhar com noites de inverno, onde o frio põe na mesa o vinho e o pão
Um foi tirado à videira, o outro, amassado por tua mão
Ter que lembrar todo dia do medo que te fez deixar teu chão
Nem ao pior inimigo se quer tão amarga recordação

O que mais me surpreende é que, com cinco anos, eu tinha plena consciência da história do meu pai. Sabia, já, o que era um imigrante. O que era "ter que lembrar todo dia do medo que te fez deixar teu chão". E ninguém me contou nada. Eu apenas... sabia.

Ouvir essa música e lembrar do meu pai me emociona demais. Deixo aqui, neste post, toda a falta que ele está me fazendo... 

sexta-feira, maio 13, 2011

Música Sérvia

Para quem não percebeu ainda pelo meu sobrenome, sim, eu sou "meio-sérvia". E ultimamente ando em um estado de espírito meio Živela Srbija ("orgulho da Sérvia"). Daí a minha necessidade premente de escrever sobre esta banda que é um clássico da terrinha, ou melhor, da extinta Iugoslávia, mais precisamente da Bósnia: Bijelo Dugme (ou "botão branco", porque a banda tornou-se inicialmente conhecida por conta de uma música chamada Kad bi'bio bijelo dugme, "se eu fosse um botão branco").

Essa banda, um "monstro sagrado" do rock iugoslavo, teve como fundador o guitarrista Goran Bregović. Inicialmente guitarrista da banda Beštije, seu talento foi notado pelo líder da banda Kodeksi, o vocalista Željko Bebek. Com a dissolução da banda de Bebek, o guitarrista Ismail Arnautalić convidou Bregović a formar a banda Jutro ("manhã"), em 1971. Foi nesta época que Bregović escreveu suas primeiras canções. Quando, em 1972, a banda teve a chance de fazer suas primeiras gravações em estúdio, Bregović convidou Bebek para gravar com a banda.

Em 1974, como havia uma banda eslovena (de Ljubljana) também chamada Jutro, o grupo decidiu trocar o nome para Bijelo Dugme. Após diferentes formações, a banda chegou ao vocalista que, pessoalmente, considero uma voz poderosíssima: Alen Islamović, antigamente vocalista da banda de heavy metal Divlje jagode ("morangos selvagens"). Reza a lenda que Islamović foi escolhido não apenas por já ser um vocalista consagrado, mas também pelo seu estilo de vida notoriamente saudável: Bregović estava farto de bêbados e viciados em sua banda.

O grande hit do grupo nos anos Islamović foi Djurdjevdan, uma versão com letra em sérvio da canção cigana Ederlezi. Esta canção aparece no filme Time of the Gipsies, de Emir Kusturica. E, por incrível que possa parecer, a música também aparece no filme Borat, de Sacha Baron Cohen.


Após os anos Islamović, a banda se dissolveu, e Goran Bregović seguiu sua carreira como compositor de trilhas para cinema (notadamente em contribuição com o cineasta Emir Kusturica). E, apesar de Goran Bregović dizer freqüentemente que não reuniria o grupo novamente, em 2005 ele o fez, com  Željko Bebek, Mladen Vojičić Tifa e Alen Islamović nos vocais.

Após este encontro, não houve outra reunião da banda. Que, até hoje, é considerada a maior banda de rock da extinta Iugoslávia.

domingo, maio 08, 2011

Loucura!

Eu queria muitíssimo escrever alguma coisa hoje. Mas queria fugir do tema do Dia das Mães, porque minha mãe morreu há quase cinco anos e esse fato, associado à data, é algo que me deprime.
Então, meu tema de hoje é a loucura. Na verdade, a personificação ideal dela, a personagem do vídeo abaixo:


Esse vídeo é uma adaptação, em versão concerto, de uma cena hilariante, de uma ópera igualmente hilariante chamada Platée.

Essa cena é uma das minhas favoritas na ópera inteira. Trata-se da chegada de uma personagem, a Loucura (La Folie). Na introdução, Momo (o deus da sátira) faz carinha de confuso e diz que uma nova harmonia foi anunciada por Terpsícore ou Thalia, ao que a personagem da Loucura responde que não, ele se engana.

Momo pergunta algo como "Pelos deuses, o que vejo?", e a moçoila grita, triunfante: "Sou eu, a Loucura, que acabo de roubar a Lira de Apolo".

Na seqüência, uma breve homenagem do coro à Loucura, que resolve cantar em homenagem a Platée, a personagem principal da ópera (que vai se "casar" com Júpiter). E é aí que a coisa desanda: a Loucura canta um texto tristíssimo, a história de Daphne e Apolo, com uma música estranhamente alegre e cheia de ornamentos, e em seguida um texto mais levinho e alegrinho (falando em prazeres vãos), com uma música horrorosamente triste!

Enfim, piração total.

No final da ópera, vemos a primeira cena de bullying em música. Mas isso fica para outro post!

quinta-feira, maio 05, 2011

Superando traumas acadêmicos!

Quem leu o meu post sobre os 100 fatos sabe que eu sempre tive um certo trauma de Matemática (fato 36). Não que eu detestasse a matéria, mas estava longe de ser a minha favorita, e eu tive um professor, na oitava série, que não ajudava muito.

Mas, por conta de circunstâncias da vida, fui levada a estudar engenharia. Um curso que é Matemática do começo ao fim. E eis que, no primeiro ano do curso, o Milagre aconteceu: tive um professor de Cálculo que fez com que eu descobrisse que Matemática não era o bicho de sete cabeças que parecia. Um trauma que vinha de longe, e que parecia irrecuperável.

Eis que agora, no mestrado, enterro outro trauma acadêmico. Programação. Tentaram me enfiar programação na cabeça a marretadas no primeiro ano da graduação, mas não conseguiram. Quando precisei, no trabalho, deixei a programação mais pesada para outras pessoas que soubessem mais do assunto.

No mestrado, porém, não teve jeito. Ou eu aprendia, ou não conseguiria fazer as matérias. E não é que estou me saindo bem, para alguém que nunca programou na vida? E logo Matlab, que me parecia tão complicado.

Não apenas estou aprendendo, como estão achando divertido programar.

E você? Tem algum trauma de matéria do colégio, ou da faculdade, para contar?

quarta-feira, maio 04, 2011

Mau atendimento, a gente vê por aqui!

Hoje foi o dia de cão! Primeiro, eu cheguei atrasada à universidade (dêem um desconto, minhas aulas geralmente são às nove, ou seja, eu acordo às sete, hoje eu tive que chegar lá nesse horário!). Depois, fui para a aula das 09h00, tudo tranqüilo, exceto pelo frio. Depois da aula, começou a epopéia da fechadura engripada.

A sala onde estudo/trabalho só tem uma fechadura. Tetra. E a minha chave vive emperrando dentro da fechadura. Por conta disso, meu orientador me emprestou a chave dele para que eu fizesse uma cópia durante o horário de almoço.

Eis que fiz a burrada de mandar fazer a tal cópia em um chaveiro que é um velhinho daqueles bem interioranos. Bom, geralmente esses velhinhos sabem atender... ah, vá! Já vou adiantando o final da história: mau atendimento, a gente vê por aqui, no chaveiro do velhinho na praça do Colégio Coronel Carneiro Júnior...

Cheguei à faculdade, primeiro uso da chave, sem problemas. No fim da tarde, estava sozinha e, quando fui trancar a sala, adivinhem? Sim. A chave quebrou dentro da fechadura. Desmontamos a fechadura, eu e o rapaz da secretaria, e fui lá tentar me entender com o velhinho.

Teria sido mais fácil, se ele não tivesse aberto a boca para falar besteira (acho que ele abusou do direito de ser velhinho!). Virou para mim e disse que eu não sabia manusear a chave. Aí eu comecei a esbravejar: perguntei se ele estava achando que eu era alguma idiota, para não saber usar uma chave. Ele começou a tentar retrucar e eu só repetia que queria meu dinheiro de volta.

No fim, consegui o dinheiro de volta. E já saí fazendo propaganda negativa, porque... onde já se viu? O material que ele usa é ruim, e o erro é do cliente?

Acho que esta foi a primeira vez que tive algum problema desse gênero aqui na cidade. Geralmente, nos lugares onde vou, sou muito bem atendida, que fique bem claro. Mas não recomendo o chaveiro do velhinho, na praça do colégio...

Lei de Murphy

A virada entre ontem e hoje foi tudo de estranho: primeiro, meu falecido resolve ressuscitar pedindo que eu corrija um texto dele (e fica sentido quando dito que eu escrevia melhor que aquilo quando estava no terceiro ano do primário, o que é a mais absoluta verdade!). Texto cheio de coisas do tipo "não tem nada haver", "mais" no lugar de "mas" (por exemplo, "não sou o dono da verdade, mais neste post busco encontrar uma resposta...", sim, com direito a um "busco encontrar" ao invés de simplesmente "busco uma resposta!), y otras cositas más...

Como eu tenho um coração generoso, tentei conversar com ele. O problema é que, como diria Roberto Jefferson, aquele rapaz chega quase a apelar aos meus instintos mais primitivos. O que significa que, já que eu não sei lutar boxe, eu apelo para as palavras mais duras que conheço. O sujeito pode terminar comigo jogando na minha cara que eu sou "paranóica" (sendo que ELE provocava meu ciúme o tempo TODO, sempre me largando para puxar papo com outras mulheres como se eu não estivesse ali ao lado dele!), mas reclama quando eu falo mal do português dele.

Ou seja, ele pode mentir, e eu não tenho direito de responder com um fato!

Por razões óbvias, a conversa fez com que eu perdesse o sono.

Mas essa não foi a pior parte da minha transição ontem-hoje! O que mais me doeu foi conseguir dormir às 04h00, para ter que acordar às 06h00, porque eu tinha que estar na universidade às 07h00 para entregar um calhamaço de provas corrigidas para um professor, que queria distribuir as provas aos alunos na aula de hoje.

Acabei levantando às 06h48 e chegando à universidade às 07h15. Imaginem a minha cara de vergonha quando bati na porta da sala de aula, para entregar as provas.

Mas ainda não acabou! Cheguei aqui, um frio de rachar mamona! E eu sem casaco. Enquanto eu ainda estava aquecida por conta do trajeto feito de bicicleta, tudo bem. Muitas brincadeiras sobre o "conhaque" que eu tinha tomado (falei que tinha deixado o conhaque no bicicletário, mas que não ofereceria para ninguém, sorry!), e muito frio depois...

No meio da aula de Otimização, eu comecei a sentir o frio de verdade. Óbvio, não resisti á tentação e fui buscar um casaco no quarto onde eu moro aqui em Itajubá.

E não é que esquentou justo quando eu saí agasalhada?

Alguém me explica o que é isso, por favor? Lei de Murphy, ou alguma outra coisa?

Agradeço por respostas!

domingo, maio 01, 2011

Canção de guerra

Nem todo mundo sabe, mas sou absurdamente fã de música clássica. Tive minha iniciação musical, por assim dizer, aos 9 anos de idade, ao ouvir na TV uma récita da Nona Sinfonia de Beethoven, com a Filarmônica de Berlim, em uma matéria sobre o recém-falecido Herbert von Karajan.

E, por ser completamente maluca por música clássica, resolvi dedicar um dos meus "posts musicais" a uma obra do período romântico que é uma das minhas grandes favoritas: a Abertura 1812, de Tchaikovsky. Ou mais exatamente "Abertura Festiva em Mi Bemol, O Ano de 1812".

Se você, leitor, acha que Tchaikovsky é apenas "um compositor de música para ballet", está redondamente enganado. Ele criou esss filme de guerra em forma de música, em 1880, para celebrar a defesa russa de Moscou contra o avanço da Grande Armée, o Grande Exército de Napoleão, na Batalha de Borodino. Só de ouvir a música (enquanto escrevo) e pensar na história eu já fico arrepiada.

Aliás, eu deixo claro neste ponto que entendo pouquíssimo de música e não pretendo fazer uma análise técnica musical.

A obra é composta para orquestra sinfônica completa, orquestra de metais e coro. E canhões. E sinos de igreja. Sim, você leu direito. Canhões (substituídos, em locais fechados, por martelos batendo em chapas metálicas ou por instrumentos mais pesados de percussão) e sinos de igreja (às vezes substituídos por sinos menores, de bronze). A partitura fala em 16 tiros de canhão no final da obra.

A primeira parte da música é o hino Deus, Preservai o Vosso Povo, cantado pelo coro masculino. Essa parte da música representa, na minha modesta opinião, o Patriarca Ortodoxo de Todas as Rússias chamando o povo à oração pela paz, visto que o exército francês nunca tinha sido derrotado. O povo vai em massa às igrejas, por todo o país, rezar pela intervenção divina, visto que o exército russo era pessimamente equipado e muito inferior numericamente.

O primeiro ponto de inflexão da música é o primeiro bater da percussão, a partir do qual as cordas e o oboé introduzem as cenas da batalha que começará em pouco tempo. A orquestra vai se avolumando, assim como a percussão, até que em outro ponto de inflexão o volume diminui e um novo motivo musical começa, ilustrando o avanço do exército francês. Este motivo é seguido por uma grande movimentação das cordas. Na minha opinião de leiga, é como se as defesas russas estivessem se preparando.

Em mais um ponto de inflexão, os sopros pintam o quadro do exército francês com A Marselhesa, em contraponto às cordas "russas". Neste ponto, tem-se a nítida impressão de que esta será mais uma batalha vencida por Napoleão Bonaparte. A partir deste ponto, a percussão pinta o quadro das escaramuças e do choque entre os exércitos, em um dos momentos mais emocionantes da obra.

O Czar apela à população, cuja resposta, na música, é mostrada em trechos de canções folclóricas russas, em tons quase pastorais, contrastando com um novo choque musical entre a Marselhesa, apresentada pelos sopros, e as cordas "russas". O choque é claramente mostrado pela percussão.

Neste momento, em que parece que tudo está perdido, as cordas mostram o vento frio do inverno que se aproxima, alternado com melodias folclóricas e com a Marselhesa: o "General Inverno", a Providência Divina, entrou em combate.

Moscou está salva. O hino do início (Deus, Preservai o Vosso Povo) é repetido em uma versão triunfante, após o inverno expulsar os franceses. O hino é acompanhado pelo repicar dos sinos e por uma percussão fortíssima. A música termina de forma apoteótica, com a melodia folclórica russa que permeou a obra alternada com canhões e os sinos das igrejas de Moscou.

Na falta de uma versão completa da música em vídeo no Youtube, deixo aos leitores uma versão bem-humorada, com o grupo Swingle Singers: